05/05/2009
2ª BIENAL DO LIVRO DE GOIÁS
Carta ao Leitor, de Milca Severino
Em relação à matéria publicada no domingo (3) em O Popular, no Magazine, intitulada "Bairrismo ou Necessidade?", respondo: necessidade. Ao dar destaque à literatura goiana, a 2ª Bienal do Livro de Goiás, realizada com pleno êxito pelo Governo do Estado, quis valorizar o escritor que nasceu ou vive em Goiás, sem contudo dissociar aquilo que é produzido aqui de um contexto de universalidade. Nós, educadores, temos o dever de identificar, valorizar e divulgar nossos escritores competentes e nossa literatura de qualidade. Não porque essa literatura é feita em Goiás, mas por ser de qualidade.
Não vamos aqui discutir o conceito de literatura, regionalismo ou gênero. Para isso, existem as teses acadêmicas. O termo literatura goiana não seria limitador ou reducionista, tampouco ofensivo, não fosse o nosso próprio complexo de inferioridade.
Infelizmente, essa visão reducionista da literatura produzida em Goiás é um vício que não podemos ignorar, como demonstrado na matéria "Bienal da Juventude", publicada em 28/03/09, que afirmou que esta edição da Bienal do Livro traria "menos estrelas" do que a anterior. Ora, tivemos aqui, à disposição de todo o público, ilustres da envergadura de Bariani Ortencio, Eurico Barbosa, Antonio José de Moura, Ursulino Leão, Augusta Faro, Moema Olival e Silva, Brasigóis Felício, Miguel Jorge, Edival Lourenço e tantos outros.
A 2ª Bienal veio para isso. Para que nós mesmos sejamos capazes de reconhecer nossos valores sem ter que tomar por referência alguém de fora, ou nos sentirmos culpados por isso. Como disse Edival Lourenço na referida reportagem, "o termo literatura goiana é, muitas vezes, usado contra os escritores como algo redutor (...) o que precisamos é fazer um trabalho de divulgação que dê respeitabilidade à produção literária local". O que fez a 2ª Bienal do Livro.
Da mesma forma que Érico Veríssimo, Jorge Amado, Ariano Suassuna, Autran Dourado e outros que, com seu regionalismo, elevaram a literatura brasileira ao patamar das grandes obras universais, os nossos escritores, goianos, sim, fazem da literatura, goiana, sim, um legado universal.
Nélida Piñon, em sua passagem pela 2ª Bienal do Livro de Goiás, bem lembrou que a obra de um escritor não está dissociada de sua vida; ele escreve aquilo que é, que vive, sua história, sua família, o lugar onde nasceu. A obra está sempre permeada pela vivência do autor.
Milca Severino Pereira
Secretária de Estado da Educação
Publicada na seção "Cartas dos Leitores", do jornal O Popular de 5 de maio de 2009.